"Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho."
[Martha Medeiros]
Uma vez ouvi uma amiga dizer que depois que engravidamos o nosso mundo fica muito particular. Na época confesso que achei um exagero e não entendi o sentido que ela quis dar. Hoje a entendo perfeitamente.
Ao descobrirmos uma gravidez, planejada ou não, tudo realmente muda. O nosso telefone quase não toca mais. Os amigos provam a que vieram. As pessoas ficam mais egoístas e se preocupam apenas com elas. Não que estejam erradas, mas até antes da notícia fatal, elas pareciam se importarem, também comigo.
É incrível pois tive duas experiências muito distintas em questão de um ano. Na primeira, eu era noiva e muitos dos meus amigos eram na verdade amigos dele. Com o fim do relacionamento me senti, além de grávida, sozinha! Achei que era apenas porque as amizades tinham tomado "partido" e se afastado como consequência. Perdi o bebê com 3 meses e sofro até hoje, calada. Um ano e pouco depois... refiz minha vida, novos amigos... pessoas a quem eu daria um pouco de minha vida, pessoas que eu "acolhi" como sendo a família que pude escolher para seguir até os últimos dias.
Uma nova gravidez, tão inesperada e assustadora quanto a primeira. A situação é completamente diferente... o pai do bebê não é, sequer, um namorado ou uma pessoa com a qual eu planeje formar uma família. Não é uma pessoa com estrutura financeira e tampouco emocional estável e me vejo novamente sozinha. Não deveria ser assim com tantos amigos que viviam frequentando minha casa ou enchendo meu orkut com fotos de dias tão maravilhosos. Mas agora entendo minha amiga. Meu fundo ficou particular. Virou só meu. Assim como o meu filho, minhas preocupações e tudo que envolver essa nova fase.
As pessoas estão mais preocupadas em pensar a roupa que vestirão a noite na balada. Estão preocupadas no porre que vão tomar e não ter ressaca no dia seguinte. Estão preocupadas em beijar uma boca ou mil. Não dá para culpá-las né? Afinal, com tantas preocupações importantes quem perde tempo em pegar o telefone e saber se o sangramento melhorou, se estou sozinha durante o repouso, se o bebê continua vivo?
Engraçado pensar nisso tudo. Estou há quase 4 dias em casa, sem ninguém e sem poder fazer esforço, pegar peso... mas conversar eu posso, rir eu posso, ver um filme eu posso... mas quem quer saber disso? Essa situação é minha e só minha. E apesar de ser a segunda vez que passo por isso, ainda me assusto com as pessoas que são completamente diferentes das que estiveram longe de mim na primeira fase e repetem os mesmos passos. Será que todos são realmente iguais?
Hoje entendo quando essa minha amiga me agradeceu por visitá-la, perder a tarde comendo pipoca ou indo ao mc donald´s, jogando conversa fora... eu estava enchendo o vazio dela. Hoje percebo o quanto fui importante naquele momento e porque hoje ela, apesar da distância, me quer tão bem.
Não sei se essa gravidez vai adiante ou não, mas sei que nada nunca mais será igual. Nem a consideração pelos tais amigos e nem as atitudes que terei na vida. Vou dizer o mesmo que digo do meu ex-noivo quando alguém o julga... não dá para achar que todo mundo faria o que você faria no lugar dela, certo? Pois é, não dá para pensar isso mas também não dá para ser amigo de quem, de fato, não é seu! Vamos ver quem sobra para contar ou mudar o rumo dessa história. Essas, raras, excessões... vão povoar meus dias, enquanto eu viver. Os demais, esses encontrarei em algum bar, alguma balada... ou algum dia me dirão sinto muito. E sentirão mesmo!
